segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Os últimos degraus não são nomes do adeus

Jim Dine, 1973

Nada mais em demanda


Olho os desenhos e a palavra no fogo. Fogo amarelo e azul.
O inverno aperta. Nossas provisões a meio. Debaixo das cobertas, a bondade do teu corpo. Dormes. Teus odores no travesseiro. Temos biscoitos, batatas, lentilhas, defumados, beterraba, uma sobra de vinho. Porém nada mais em demanda que lenha. Calculamos mal. Quando nos apartamos do mundo para viver neste sótão, entrevíamos abaixo, no rio, toda a nobreza suando em trajes de caça. Arrastando sua pompa em jogos e faros de galgo. Havia apenas uma escada nos ligando ao mundo. Agora faz muito frio. E há meses que só temos um ao outro. Não imaginávamos mais fácil. E nada há que entregar. Pontos ou rapadura. Sei que gostas de gatos. E que custou ter-te apartado do teu. É a única coisa que falta. O brilho dos olhos de um bichano. Por vezes não aquece menos que lenha.

E então ontem retirei mais dois degraus da escada.

* * * 

2 comentários:

  1. gostou, c? é baseado em um enredo de ludwig tieck. coloquei como aperitivo para discutir a questão da 'experiência' daqui uns dez posts.

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