Egon Schiele, 1910
Sylvia
Sylvia, do you remember the minutes
in this life overhung by death,
when beauty flamed
through your shy, serious meditations,
and you leapt beyond the limits
of girlhood?
Wild,
lightning-eyed child,
your incessant singing
shook the mirror-bright cobbles,
and even the parlour
shuttered from summer,
where you sat at your sewing
and such girlish things—
happy enough to catch
at the future’s blurred offer.
it was the great May,
and this is how you spent your day.
I could forget
the fascinated studies in my bolted room,
where my life was burning out,
and the heat
of my writings made the letters wiggle and melt
under drops of sweat.
Sometimes, I lolled on the railing of my father’s house,
and pricked up my ears, and heard the noise
of your voice
and your hand run
to the hum of the monotonous loom.
I marveled at the composed sky,
the little sun-gilded dust-paths,
and the gardens, running high
and half out of sight,
with the mountains on one side and the Adriatic
far off to the right.
How can human tongue
Say what I felt?
What tremendous meaning, supposing,
and light-heartedness, my Sylvia!
what a Marie-Antoinette
stage-set
for life and its limits!
I turn aside to deride
my chances wrenched into misadventure.
Nature, harsh nature,
why will you not pay
your promise today?
Why have you set
your children a bird net?
Even before the Sirocco had sucked
the sap from the grass,
some undiagnosable disease
struck you and broke you—
you died, child,
and never saw your life flower,
or your flower plucked
by young men courting you
and arguing love
on the long Sunday walk—
their heads turned and lost
in tour quick, shy talk.
Thus hope subsided
little by little;
date decided
I was never to flower.
Hope, dear comrade of my shrinking summer,
How little you could keep
Your colour! You make me weep.
Is this your world?
These, its diversions, its infatuations,
its accomplishments, its sensations,
we used to unravel together?
you broke before the first
advance of truth;
the grave
was the final, shining milestone
you had always been pointing to
with such insistence
in the undistinguishbable distance.
Robert Lowell
Sílvia
Sílvia, lembra os minutos
desta vida tocaiados pela morte,
quando a beleza luzia
sobre teus sóbrios, sérios pensamentos
e saltavas a fronteira
da infância?
Brusca
criança de faísca no olho,
teu incessante canto
trepidava as pedras espelhadas do macadame,
e mesmo o salão,
com venezianas à veraneio,
onde sentavas a coser
e outras coisas de mulher –
feliz o bastante para apreender
a embaçada oferta de futuro.
Era o enorme maio,
e eis como gastavas teu dia.
Eu me esquecia
dos estudos fascinantes em meu quarto aferrolhado,
onde minha vida oxidava,
e o calor
de minha caligrafia serpeava e derretia
sob gotas de suor.
Às vezes, reclinava no balcão da casa de meu pai
e afinava o ouvido, e escutava o rumor
de tua voz
e tua mão correndo
ao zumbido monótono do tear.
Eu admirava o céu compósito,
as esguias, aureoladas trilhas poeirentas,
e os canteiros, estendendo-se ao alto
e quase fora de esquadro,
com as montanhas de um lado e o Adriático
bem à direita.
Que língua humana
diria meu sentido?
Que tremendo senso, suponho,
e vida solta, minha Sílvia!
Que cenário
de Maria Antonieta
para uma vida e seus limites!
Quando penso no supremo sopro de orgulho,
acres reservas me sufocam,
viro-me para troçar
de meus acasos retorcidos de infortúnio.
Natureza, cruel natureza
por que não pagas
hoje tua promessa?
Por que tão cedo
aninhaste tuas crias?
Antes ainda do Sirocco sugar
a seiva da relva,
alguma indiagnosticável doença
colheu-te e te partiu –
morreste, menina,
e nunca viste tua vida em flor,
ou tua flor colhida
por mancebos cortejando-te
e protestando amores
na longa senda do domingo –
suas cabeças viradas, absortas
em tua ágil fala apianada.
Assim, o porvir precipitou-se
pouco a pouco;
e destino decidiu
que eu nunca chegasse a florir.
Porvir, querida amiga de meu pulsante verão,
quão pouco pudeste manter
tua cor! Me dás pena.
Era esse teu mundo?
Com seus divertimentos, embaraços
realizações, sentidos,
que costumávamos desenredar?
Tu te trincaste antes do primeiro
tranco da verdade;
o túmulo
foi o marco final e luzente
que sempre indicavas
com tanta insistência
na indistinguível distância.
Nota – poema do volume Imitations [1961], em que Robert Lowell recria em inglês alguns dos grandes poemas do Ocidente. Neste caso, uma célebre peça de Giacomo Leopardi (1798-1837) “A Silvia” (rimembri ancora/ quel tempo della tua vita mortale [...]). ‘Sirocco’ (7ªe, v1) – o vento que sopra das costas africanas para as praias da Itália, e que se acreditava portar qualidades maléficas.
Sylvia, do you remember the minutes
in this life overhung by death,
when beauty flamed
through your shy, serious meditations,
and you leapt beyond the limits
of girlhood?
Wild,
lightning-eyed child,
your incessant singing
shook the mirror-bright cobbles,
and even the parlour
shuttered from summer,
where you sat at your sewing
and such girlish things—
happy enough to catch
at the future’s blurred offer.
it was the great May,
and this is how you spent your day.
I could forget
the fascinated studies in my bolted room,
where my life was burning out,
and the heat
of my writings made the letters wiggle and melt
under drops of sweat.
Sometimes, I lolled on the railing of my father’s house,
and pricked up my ears, and heard the noise
of your voice
and your hand run
to the hum of the monotonous loom.
I marveled at the composed sky,
the little sun-gilded dust-paths,
and the gardens, running high
and half out of sight,
with the mountains on one side and the Adriatic
far off to the right.
How can human tongue
Say what I felt?
What tremendous meaning, supposing,
and light-heartedness, my Sylvia!
what a Marie-Antoinette
stage-set
for life and its limits!
I turn aside to deride
my chances wrenched into misadventure.
Nature, harsh nature,
why will you not pay
your promise today?
Why have you set
your children a bird net?
Even before the Sirocco had sucked
the sap from the grass,
some undiagnosable disease
struck you and broke you—
you died, child,
and never saw your life flower,
or your flower plucked
by young men courting you
and arguing love
on the long Sunday walk—
their heads turned and lost
in tour quick, shy talk.
Thus hope subsided
little by little;
date decided
I was never to flower.
Hope, dear comrade of my shrinking summer,
How little you could keep
Your colour! You make me weep.
Is this your world?
These, its diversions, its infatuations,
its accomplishments, its sensations,
we used to unravel together?
you broke before the first
advance of truth;
the grave
was the final, shining milestone
you had always been pointing to
with such insistence
in the undistinguishbable distance.
Robert Lowell
Sílvia
Sílvia, lembra os minutos
desta vida tocaiados pela morte,
quando a beleza luzia
sobre teus sóbrios, sérios pensamentos
e saltavas a fronteira
da infância?
Brusca
criança de faísca no olho,
teu incessante canto
trepidava as pedras espelhadas do macadame,
e mesmo o salão,
com venezianas à veraneio,
onde sentavas a coser
e outras coisas de mulher –
feliz o bastante para apreender
a embaçada oferta de futuro.
Era o enorme maio,
e eis como gastavas teu dia.
Eu me esquecia
dos estudos fascinantes em meu quarto aferrolhado,
onde minha vida oxidava,
e o calor
de minha caligrafia serpeava e derretia
sob gotas de suor.
Às vezes, reclinava no balcão da casa de meu pai
e afinava o ouvido, e escutava o rumor
de tua voz
e tua mão correndo
ao zumbido monótono do tear.
Eu admirava o céu compósito,
as esguias, aureoladas trilhas poeirentas,
e os canteiros, estendendo-se ao alto
e quase fora de esquadro,
com as montanhas de um lado e o Adriático
bem à direita.
Que língua humana
diria meu sentido?
Que tremendo senso, suponho,
e vida solta, minha Sílvia!
Que cenário
de Maria Antonieta
para uma vida e seus limites!
Quando penso no supremo sopro de orgulho,
acres reservas me sufocam,
viro-me para troçar
de meus acasos retorcidos de infortúnio.
Natureza, cruel natureza
por que não pagas
hoje tua promessa?
Por que tão cedo
aninhaste tuas crias?
Antes ainda do Sirocco sugar
a seiva da relva,
alguma indiagnosticável doença
colheu-te e te partiu –
morreste, menina,
e nunca viste tua vida em flor,
ou tua flor colhida
por mancebos cortejando-te
e protestando amores
na longa senda do domingo –
suas cabeças viradas, absortas
em tua ágil fala apianada.
Assim, o porvir precipitou-se
pouco a pouco;
e destino decidiu
que eu nunca chegasse a florir.
Porvir, querida amiga de meu pulsante verão,
quão pouco pudeste manter
tua cor! Me dás pena.
Era esse teu mundo?
Com seus divertimentos, embaraços
realizações, sentidos,
que costumávamos desenredar?
Tu te trincaste antes do primeiro
tranco da verdade;
o túmulo
foi o marco final e luzente
que sempre indicavas
com tanta insistência
na indistinguível distância.
Nota – poema do volume Imitations [1961], em que Robert Lowell recria em inglês alguns dos grandes poemas do Ocidente. Neste caso, uma célebre peça de Giacomo Leopardi (1798-1837) “A Silvia” (rimembri ancora/ quel tempo della tua vita mortale [...]). ‘Sirocco’ (7ªe, v1) – o vento que sopra das costas africanas para as praias da Itália, e que se acreditava portar qualidades maléficas.
Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.
ResponderExcluirjá tinha ouvido falar de Sylvia, R. Lowell, mas foi daqueles que esperei cair em mãos ^^
ResponderExcluiré realmente lindo, agradeço por compartilhar aqui em seu blog.
e a escolha de egon schiele foi perfeita. bjos.
obrigado,
ResponderExcluirsafiri e rodrigo.
privilégio, sim, ter vs. por perto.
bjs., abs.
ruy