sexta-feira, 10 de junho de 2011

And While Lennon Read a Book of Marx

[s/i/c]


Com alguma pressa e espuma no vidro da caneca: a mais longa letra de rock'n'roll do planeta 


Em “American Pie”, canção que nomeia o álbum homônimo de Don Mclean, lançado em 1971, encontra-se a mais longa letra de rock'n'roll do planeta. Ou pelo menos a mais longa letra que “funcionou”: o tema ficou quatro semanas em primeiro lugar nas charts americanas. A canção, girando em torno da morte de Buddy Holly e outros dois músicos, que se deu num desastre de avião, em 1959  o episódio ficou conhecido como "The Day the Music Died"  estende-se por longos oito minutos e trinta e três segundos. Tem 112 versos. Faz referência a mais de trinta artistas, canções de rock ou ícones dos anos 60. Ortodoxamente, seria uma canção folk. Começa e termina em andamento lento, apenas com acordes ao piano, salpicados aqui e lá. E depois o violão puxa o andamento. E então há um bocado de suingue no miolo – mais do que suficiente para se dançar. E há também a colaboração de ases, como o guitarrista David Spinozza, que tocou em discos solos de Lennon e McCartney, não menos. Linhas de baixo no ponto, fazendo as vezes da mão esquerda no piano – um pouquinho opacas, sem eco, o que as torna muito charmosas – e um piano que pulsa como um coração cheio de contentamento selvagem e generosa adolescência. Segue sob o feitiço de Paul Griffin, um experiente músico de estúdio, o mesmo a mover teclas do arranjo para piano de "Rain Drops Keep Falling on My Head". Em nenhum outra época a sonoridade dos pianos era tão agradável, redonda, recheada ao gosto do freguês e dos microfones de estúdio como então. E o fato de "American Pie" provir dessa metade inicial da década de 70, bate bem rente com o tempo em que eu estava começando a afinar o ouvido para esse gênero de música. Eu ainda não tinha dez anos. Há algo de mágico na sonoridade dessa época. Algo que, inclusive, foi perdido nos primeiros CD's, ainda não devidamente remasterizados, no início dos 90. Algo presente em álbuns como os dois primeiros de George Harrison: All Things Must Pass e Living in the Material World – este último possivelmente o melhor álbum solo lançado por um ex-Beatle, cabeça a cabeça com o Plastic Ono Band, de Lennon – é de cinco e meia para seis horas da tarde: azul de melancolia. Mas a sonoridade desses pianos encorpados se ouve em muitos outros ícones de então: Derek and the Dominos; Pink Floyd; Led Zeppelin; Duane Allman; The Band; Joni Mitchell; Emerson, Lake and Palmer; Genesis; Crosby, Stills & Nash; Carpenters; Traffic e tantos outros. De resto, Don Mclean jamais comporia outro tema tão longo. Nem tão interessante. “American Pie” pode ser ouvida aqui: 


E apure sobretudo os ouvidos para os opulentos sons do baixo [Bob Rothstein] e do piano [Paul Griffin]. É um dos timbres de piano mais bonitos registrado em disco. A sonoridade lembra gotas de chuva caindo numa pequena cisterna ou num barril. Ou um trago de cerveja sendo posto com alguma pressa e espuma no vidro da caneca.


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